Presidente: Vitor Sá Vice-Presidente: Secretária: Guiomar Vice-Secretária: Tesoureira: Ana Vice-Tesoureiro:
Obra Unidas: Fatinha
ECAFO: Lindomar G. Avelar
Participem enviando matérias para serem postadas no blog pelo E-mail: lind_avelar@hotmail.com
A SOCIEDADE SÃO VICENTE DE PAULO EM GOIANÉSIA
AUTORIA DO: Confrade LINDOMAR GOMES DE AVELAR E MÁRCIA REGINA SANTA CRUZ SIQUEIRA
Dedicamos este trabalho como processo de gratidão aos fundadores da Sociedade São Vicente de Paulo pela excelente iniciativa. Por todos que contribuíram para que fosse possível a realização deste trabalho.
RESUMO
Devido a uma grande onda de anticristianismo no séc. XVIII, Ozanam e companheiros fundam a primeira conferência no mundo. A sociedade recém criada recebe o título de Sociedade São Vicente de Paulo e ganha proporções enormes expandindo pelo mundo inteiro chegando a todos os continentes de forma organizada e eficiente. Seu objetivo é estar sempre ajudando as pessoas mais carentes e necessitadas levando promoção social. No Brasil, foi trazida por confrades que já haviam participado de conferências na Europa. A primeira conferência no Brasil foi a Conferência São José, fundada em 1872 no Rio de Janeiro, onde o Brasil atravessava por problemas sociais, políticos e econômicos e era necessária a intervenção da Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP). Em 1953 a Sociedade São Vicente de Paulo chega em Goianésia, ano de sua emancipação política, onde contribuiu muito para as questões sociais que os imigrantes recém chegados enfrentavam. Nesse trabalho vem constando vários aspectos que compõe a SSVP. Sua estrutura oligárquica, patrimônios e como são feitos os trabalhos vicentinos de Promoção Social em Goianésia. Para a execução deste trabalho foram utilizados vários métodos para coletagem de dados, como: entrevistas com militantes que fizeram a história da SSVP em Goianésia, como também análise de documentos, onde contém fontes valiosas para a construção da história da SSVP, leitura de jornais, revistas, a Regra da Sociedade São Vicente de Paulo no Brasil, a qual contém toda a estrutura da SSVP e obras que nos ajudaram a contextualizar no meio social, político e econômico da sociedade.
1 INTRODUÇÃO
Trata-se de um assunto não muito conhecido, mas que desempenha um importante trabalho aqui em Goianésia, no Brasil e no Mundo. Estamos nos referindo a Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP). Descrevem-se importantes acontecimentos desta entidade filantrópica que vem desde 1833 rompendo décadas e século, porém pouco conhecido. E é por este motivo que resolvemos estudar e aprofundar neste assunto. O presente estudo inicia-se pela fundação da 1ª conferência no Mundo que foi em Paris na França, mostrando as fases que foram fundamentais para o nascimento da SSVP e o que impulsionou a crescer tanto em Goianésia, onde aprofundaremos mais, mostrando como funciona, como foi fundada, seus fundadores, a 1ª conferência vicentina em Goianésia, como se originou, seu crescimento, sua formação oligárquica e hoje, 170 anos depois de sua fundação mostrar como está a SSVP. Na realização desse trabalho, utiliza-se de conhecimentos adquiridos pelo pesquisador em vários encontros no qual já participou, pois é membro da SSVP desde 1989, sendo, tesoureiro da Conferência Nossa Senhora D´Abadia e mais tarde presidente. Também foi coordenador da Comissão de Jovens da SSVP em Goianésia e atualmente é presidente do Conselho Particular Antonio Frederico Ozanam. Busca-se também fontes em vários documentos como livros de Atas, livros, Boletins Informativo, livro de Regra, entrevista com pioneiros vicentinos e pela Internet. Este trabalho foi desenvolvido com imparcialidade, com bases em fontes concretas e com visão de historiadores.
2 ORIGEM DA SOCIEDADE SÃO VICENTE DE PAULO
2.1 FUNDAÇÃO DA 1ª CONFERÊNCIA VICENTINA NO MUNDO
A Sociedade São Vicente de Paulo foi fundada em 1833, em Paris, na França, tendo como fundador principal Antonio Frederico Ozanam. Antonio Frederico Ozanam formou-se em direito para satisfazer seus pais, mas logo depois formou-se em letras que é o que lhe dava mais prazer. E foi nas conferências de História que partiu a idéia da fundação. Nesta época o anticristianismo estava cada vez maior e nas conferências todos tinham liberdade para tratar de qualquer assunto. Ozanam, Lallier e Lamache eram os três que permaneciam em defesa da religião em face da irreligiosidade audaciosa e triunfante. Era comum ver o anticristianismo na imprensa, em comícios e na própria Sorbona na qual atacavam os estudantes católicos. Sorbona foi fundada em 1250 pelo padre Roberto Sorbon, capelão do rei S. Luis e acabou passando para as mãos de adversários da igreja. Tendo freqüentes discursos anticristianismo. Durante uma das conferências um jovem atacou os católicos:
Vocês tem razão se ficarem no passado, quando o Cristianismo fez prodígios. Mas hoje ele está morto! E vocês, que se gabam do seu catolicismo, que fazem agora? Cadê suas obras, as obras que provam sua fé e que nos poderiam convencer? (VIDA..., 1978, p. 55)
Foi como uma flecha no coração de Ozanam, pois, realmente o que diferenciava dos outros era só os palavriados. E daí decidiu “vamos fazer como Jesus fez, vamos aos pobres”. E começou levando lenhas mais seu companheiro Le Taillandier a um pobre que iria queimar no inverno. Resolve dar a organização o nome de “Conferência de Caridade” para distingui-la da “Conferência de História” e como o número de membros estava reduzido, Ozanam indicou Clave e Devaux, que aceitaram pertencer à conferência, subindo a sete o número de fundadores. Isto se deu, provavelmente no dia 23 de abril de 1833, após invocação ao Espírito Santo e leitura extraída da “imitação de Cristo” quando Bailly presidiu a 1ª seção. A obra fundamental seria a assistência às famílias pobres em seus domicílios e as ajudas teriam que ser dadas em vales e não em dinheiro. Até hoje esse sistema vem sendo desenvolvido, ainda que com modificações. A conferência já tinha como patrocínio São Vicente de Paulo, mas na seção de 4 de fevereiro de 1834, Lê Prevost sugeriu que fosse dado o título à sociedade de Sociedade São Vicente de Paulo. Ozanam sugeriu, também, que fosse colocado sob a proteção da Virgem Maria, acrescentando a “Ave Maria” nas orações. Em novembro de 1834 Ozanam iria coroar com grau superior seus estudos jurídicos e teria que enfrentar a dura luta com os estudos, trabalhos vicentinos e sem esquecer a Literatura. Preocupava também com o crescimento da conferência, pois em dezembro de 1834 já contava com 100 membros e a divisão da conferência já era questão de sobrevivência daquela obra. E assim se deu a divisão, depois de muita discussão em 24 de fevereiro de 1835 Bailly procedeu à divisão da conferência em duas seções, que era defendida por Ozanam. A partir daí a SSVP não parou de crescer. Cinqüenta anos depois, Lallier, Lamache, Lê Taillandier e Devaux, ainda vivos, deram um depoimento sobre a origem da Sociedade apontando como seus fundadores: Bailly (Manuel José); Lamache (Paulo); Clavé (Félix); Lê Taillandier (Algusto); Devaux (Julio), Ozanam (Antonio Frederico); Lallier (Francisco). Após a morte de Ozanam, membros da 1ª conferência em Paris o apontaram como a alma do movimento.
2.2 EXPANSÃO NO MUNDO
A SSVP a cada dia crescia mais, e na medida que aumentava os membros, as conferências iam se desmembrando, mas sempre tendo Bailly como presidente de todas. Podemos até dizer que foi o início dos conselhos, pois Bailly era o conselheiro, guarda das tradições, onde coordenava todas as conferências e sempre tendo Ozanam ao lado, acompanhando todo o movimento. Mesmo depois da morte de seus fundadores, a SSVP não deixou de crescer e se espalhar por todo o mundo. Os vicentinos justificam esse crescimento devido ao alicerce que foi estruturado pelos fundadores e também porque está muito bem protegido por Deus e sob a intercessão de São Vicente de Paulo e de Nossa Senhora. No continente Americano funcionam mais de 21.500 conferências. Na Europa mais de 14.000. Na África mais de 2.500. Na Ásia 5.500 e na Oceania mais de 3.500 conferências, chegando a um total de mais de 47.000 conferências e aproximadamente 875.000 membros em todo o mundo. Apesar da SSVP ter chegado no Brasil somente 39 anos depois de sua fundação, é um dos países onde se concentra o maior número de vicentinos.
2.3 A PRIMEIRA CONFERÊNCIA NO BRASIL
Segundo Lopez (1991), na década de 70, do século XIX, o Brasil passava por mudanças, ou seja, o Brasil saía de uma guerra, a Guerra do Paraguai, e fez com que ocasionasse essas mudanças como a formação do exército brasileiro, pois o império não lhe oferecia chance de ascensão social; novas leis foram criadas com relação aos negros (escravos), como a lei do ventre livre; a questão religiosa, em que o Brasil, valendo-se dos seus direitos de tutela do estado sobre a igreja deixou de apoiar as decisões da mesma e situação sócio-econômica que o país passava que era dramática, onde Aluísio de Azevedo demonstra com cores vivas e cruas as mazelas sociais (O Mulato, 1881; Casa de Pensão, 1884; O Cortiço, 1890). E foi dentro desse contexto que nasceu a primeira conferência vicentina no Brasil para tentar amenizar a situação dos pobres e injustiçados, como já estava sendo feito em outros países. No dia 19 de julho de 1872, alguns leigos foram convidados pelos padres lazaristas para jantar no seminário diocesano de São José, isso aconteceu depois de uma cerimônia religiosa em louvor a São Vicente de Paulo na Capela da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. No jantar estavam presentes, entre outros, o conceituado médico Dr. Pedro Fortes Marcordes Jabim, o advogado Antônio Socioso Moreira de Sá e Francisco Lemos Faria Coutinho - um fidalgo a serviço da imperatriz do Brasil D. Leopoldina. E foi nesse jantar que um dos presentes ficou surpreso em saber que ainda não existia a SSVP no Brasil, um grande país católico, onde os menos favorecidos reclamavam por ações de caridade. Essa atitude talvez tenha sido motivada pelas celebrações ao “Pai da Caridade”, mas isso não vem ao caso, o importante é que no dia 04 de agosto de 1872 era implantada a primeira conferência em terras brasileiras, a conferência São José. Ela foi agregada em 16 de novembro de 1872, sendo essa data a oficial da implantação da SSVP no Brasil. Na primeira reunião o conde de Aljesur que era o fundador da primeira conferência em Portugal foi eleito presidente para nomear os confrades Pedro Jobim para secretário e Antônio Secioso para tesoureiro.
3 O SURGIMENTO DA SSVP EM GOIANÉSIA
3.1 A ECONOMIA EM GOIANÉSIA
Na formação histórica de Goianésia, pode se dizer que, a princípio, por volta de 1857, habitavam por aqui os nativos índios pertencentes à família tupi-guarani. eles eram pacíficos, mas mostravam ferocidade quando atacados. Estes índios acabavam se misturando com os possuidores de terras da região e aos poucos foram sendo extintos devido ao desenvolvimento. E no ano de 1939, Laurentino Martins Rodrigues fez um vôo de conhecimento num avião, pois tinha interesse pelas terras que num futuro próximo iriam constituir a cidade de Goianésia e convencido da prosperidade dessas terras ele às compra do Dr. Albatênio e sua esposa Maria de Paula Fleury Godoi, como esclarece Menezes:
No dia 21 de maio de 1940, recebeu a escritura da compra passada por Dr. Albatênio e sua mulher Maria Paula Fleury Godoi. Essa escritura, assinada pelo procurador Mário Félix de Souza, refere-se às terras com 3.136,32 hectares, correspondente a 648 alqueires, dentro da Fazenda Calção de Couro, transcrita à folha número 39, do livro 3-j, sob o número 4.925 do cartório do primeiro ofício da comarca de Jaraguá, (...) (ALENCASTRE, 1979 apud MENEZES et al., 2000, p. 20).
No dia 30 de outubro de 1943, Laurentino levanta um cruzeiro onde hoje é a biblioteca pública municipal, dando com esse passo o início do povoado de Calção de Couro. Com o passar do tempo o povoado vai ganhando novas caras, pessoas vindas de outros estados a procura de progresso e de trabalho nas grandes lavouras de café do senhor Jalles Machado de Siqueira e José Carrilho Arantes, e outros;devido a plena produção das lavouras. Como afirma Menezes:
No interior do município, as lavouras de grãos estão em plena produção, e em particular o arroz se torna produto comercializável pela qualidade e produtividade. Cerealistas de Anápolis, como Miguel Elias e Antônio Elias vinham comprar ‘in loco’ a produção de arroz e milho; e, Nego Walter se tornou um grande cerealista. (MENEZES et al., 2000, p. 69).
No dia 24 de julho de 1953 ,o povoado já com um número considerável de habitantes, chegando a 3.000, foi emancipado. O nome de Goianésia criou fama e continuaram chegando pessoas de todos os lugares, atraídos pelo seu desenvolvimento, como declara Menezes:
(...) Aqui chegaram: Manoel Rodrigues do Nascimento, notório contador de ‘causos’ e (...); João Gomes de Mesquita, que veio de lagoa da prata, MG e comprou a área comercial de Luiz Gonzaga Sobrinho; Luís Rosa Veiga, veio de Pirenópolis para trabalhar como balconista na loja A Mercantil, de Luís Curado; da fazenda Piteira do mesmo município também veio Guilói Rezende, e aqui montou serraria; de Januária, MG, veio a família de Amadeus Valeriano da Silva, que foi residir na fazenda Vista Alegre; (...) (ALENCASTRE, 1979 apud MENEZES et al., 2000, p. 20).
Com o aumento da população, surge também um grande número de pessoas carentes, trabalhadores. Porém, o que ganhavam era insuficiente para sustentar suas famílias. Desde 1952 já existia a presença da SSVP em Goianésia, porém não era registrada e nem com fins beneficentes e no meio de todos os problemas que a recém nascida Cidade já tinha, surgiu a necessidade de fundar a primeira conferência vicentina registrada com fins de caridade e de acordo com o regulamento da SSVP a nível internacional . Como expressa João José de Miranda: “Em 1952, já existia a SSVP em Goianésia, mas não era registrada e tinha como membros um grupo de políticos, que tinham facilidade em conseguir verbas, mas não com fins de caridade...”[1]. E no dia 20 de novembro de 1953, quatro meses após a emancipação política de Goianésia, o vigário padre Jesus Osés Pagolo juntamente com o laicato católico, liderados por Altamiro Araújo de Siqueira e de representantes da sociedade de Goianésia fundaram a conferência Sagrado Coração de Maria, sendo a primeira em Goianésia, com registro em cartório, conforme anexo.
3.2 O CRESCIMENTO DA SSVP EM GOIANÉSIA
Com o passar do tempo a conferência Sagrado Coração de Maria cresce ganhando novos membros, interessados na causa cristã e vicentina e, com isso, houve a necessidade de criar outras conferências. Em 19 de Setembro de 1956 fundou-se a 2ª conferência chamada Conferência Sagrado Coração de Jesus e em 20 de Dezembro de 1960 criou-se a 3ª conferência chamada Santa Luzia e assim foi crescendo o número de conferências em Goianésia e inevitavelmente, foi necessário a criação de Conselhos Particulares para melhor orientá-las surgindo assim, o Conselho Particular São João Batista em 24 de Junho de 1961 e outros como o Conselho Particular Antonio Frederico Ozanam em 31 de Março 1976. Todas seguem a Regra da SSVP que tinham e continuam tendo como objetivo primordial a ajuda aos necessitados de bens materiais, espirituais e morais, pois uma boa parte da população goianesiense encontrava em dificuldades, devido a ilusão de quando vieram para cá à procura de uma vida melhor, trabalhando nas lavouras. Hoje as conferências continuam desenvolvendo o mesmo trabalho, porém com mais eficácia, devido ao grande número existente em Goianésia e pela parceria que desenvolve junto às duas Paróquias: Sagrado Coração de Maria e Sagrado Coração de Jesus, conforme esclarece o confrade Amador Augusto Xavier, atual presidente do Conselho Central de Goianésia: “A relação da SSVP com a igreja é muito boa, é um movimento em comunhão com a igreja, obedecendo a doutrina da igreja, anda em conjunto.”[2]. São 34 conferências vicentinas existentes em Goianésia distribuídos em 6 Conselhos Particulares: Ø Conselho Padre Astério => Conferência Nossa Senhora da Abadia, Conferência São Francisco de Assis, Conferência Nossa Senhora da Guia, Conferência Sagrado Coração de Jesus e Conferência do Perpétuo Socorro; Ø Conselho Irmã Fanny => Conferência Santa luzia, Conferência Nossa Senhora da Aparecida, Conferência São Judas Tadeu, Confer6encia Nossa Senhora de Sant´Ana, Conferência São Sebastião, Conferência São Benedito; Ø Conselho São João Batista => Conferência Sagrado Coração de Maria, Conferência Sagrado Coração de Jesus, Conferência São Tarcísio, Conferência Nossa Senhora de Fátima, Conferência Santa Cecília, Conferência Nossa Senhora da Guia; Ø Conselho Frederico Ozanam => Conferência Divino Pai Eterno, Conferência Nossa Senhora da Abadia, Conferência Santa Rita da Cássia, Conferência São Lucas, Conferência São Cristovão, Conferência Nossa Senhora Aparecida; Ø Conselho São Lázaro => Conferência São Mateus, Conferência São José, Conferência São Marcos, Conferência Divino Pai Eterno, Conferência Nossa Senhora da Penha, Conferência Santo Antônio Maria Clareth; Ø Conselho Menino Jesus => Conferência São Cristovão, Conferência do Perpetuo Socorro, Conferência São Geraldo, Conferência São Francisco de Assis, Conferência Nossa Senhora da Abadia; Ø E o Conselho Central de Goianésia => Que é um órgão de apoio aos conselhos particulares. Além desses seis conselhos Particulares, há, também, mais cinco Conselhos Particulares vinculados ao Conselho Central de Goianésia, porém, em outras cidades ou distritos que são: o Conselho São Bento, situado em Juscelândia; Conselho São Mateus em Cafelândia; São Miguel Arcanjo em Santa Rita do Novo Destino; São Paulo Apóstolo em Barro Alto e Conselho Imaculada Conceição, em Lagolândia.
3.3 ASPECTOS IDEOLÓGICOS E ESTRUTURAL DA SSVP
As conferências vicentinas se constituem de grupos de pessoas sem distinção de cor, sexo, idade, classe social, porém, que sejam católicos. Reúnem nas mais diversas áreas da sociedade, dividindo-se em setores/bairros e também em zonas rurais, em sedes próprias ou escolas, igrejas, salões e outros. As reuniões não podem ser muito demoradas e nem muito rápidas, atrapalhando e omitindo questões importantes e os “relatórios”. A diretoria da conferência é assim formada: Presidente, vice-presidente, secretária, vice-secretária, tesoureiro, vice-tesoureiro e ainda é composto de membros vogais que estão prontos para assumir na ausência de alguém da diretoria. A reunião é composta de: orações iniciais tradicionais da SSVP; leitura espiritual com direito a explanação e comentário dos presentes; leitura da Ata da reunião anterior, sujeita a aprovação ou retificação; chamada; relatório, em que os confrades e consócias prestam conta de suas atividades vicentinas, relatam as visitas e as necessidades dos assistidos e outros avisos de importância, sendo analisados dentro do espírito de solidariedade cristã, tomando as providências necessárias baseadas na caridade e na justiça para que sejam eficazes; em cada reunião é feita uma coleta secreta, e espontaneamente cada um partilha; são distribuídos os trabalhos da semana e em seguida o presidente encerra com as orações tradicionais da SSVP. Nas conferências o número de membros não pode ser muito grande, se isso acontecer, deve ser feito um desmembramento para facilitar os trabalhos e melhor organização, evitando reuniões muito longas. Portanto o número ideal para as conferências urbanas é de 12 a 15 membros e na zona rural podendo admitir um número maior. Os membros das conferências, denominados vicentinos, trabalham em clima de humildade. Há mais de século e meio, a SSVP vem prestando seus serviços aos pobres carentes. O seu progresso no mundo inteiro é devido, sem duvida alguma, a humildade praticada por seus membros que não se vangloriam dos trabalhos, julgando sempre que fazem menos do que poderiam fazer, pois se consideram “servos inúteis”. A Imitação de Cristo ensina que: “Aquele que bem conhece a si mesmo, não se deleita em louvores humanos”. E no dia em que a humildade desaparecer do nosso meio, nesse dia mesmo, a SSVP sucumbirá. (Tira..., 1995 p. 9)
Agem discretamente e trabalham em equipe, desenvolvendo seus trabalhos de forma organizada e colocando a caridade em ação, como descreve Guimarães: “Ser vicentino, acima de tudo, é colocar a caridade em ação. Este é, e sempre foi, desde o começo, o princípio norteador da existência da SSVP no mundo.” (GUIMARÃES, 1995, p. 10) Aqueles que se encontram em enfermidade ou por motivo da idade ou outra circunstância justificada, não puder freqüentar as reuniões da conferência, nem visitar os assistidos, mas continua a ela unido em orações, não perde a qualidade de consocia ou confrade. Membros auxiliares são aqueles benfeitores e contribuintes que ajudam as conferências, mas não podem ou não querem ser proclamados membros ativos. As conferências reúnem-se regularmente em dia, horário e local previamente escolhido pelos seus membros, sendo uma vez por semana, podendo ser prolongado o intervalo das reuniões em conferências de zona rural. São vinculadas e subordinadas diretamente ao Conselho Particular do local em que funcionam e indiretamente aos conselhos hierarquicamente superiores, que são: Ø Conselho Central: reúne uma vez por mês, tendo a participação de representantes de cada conselho a ele vinculado e o mesmo é responsável em coordenar um determinado número de conselhos em uma região não muito grande, se acontecer deve ser feito um desmembramento. É o caso de Goianésia, onde tem apenas um Conselho Central é responsável por 11 conselhos particulares e abrangendo uma área bem grande: Goianésia, Barro Alto, Vila Propício, Santa Rita do Novo Destino e seus distritos, onde há necessidade de desmembramento. Ø Conselho Metropolitano: reúne uma vez por mês, com a participação de representantes de cada Conselho Central de Goianésia a ele vinculado e é responsável por uma região maior. O Conselho Central de Goianésia é vinculado ao Conselho Central Metropolitano de Anápolis, que é responsável por outras cidades, como: Rubiataba, Niquelândia, Uruaçú, Porangatú, Palmas e outras. Ø As Regionais: Foram criadas para atender uma determinada Região. São conceituadas como: Regional I, Regional II... Ø Conselho Nacional: Instituído pelo Conselho Geral ou Internacional, representa a SSVP no Brasil, em todo o território Nacional, perante as autoridades eclesiásticas, civis e militares, podendo delegar esta representação, por deliberação expressa, mediante instrumento público, a um Conselho ou a uma Conferência. Ø Conselho Internacional: Responsável pela SSVP no mundo, fazendo cumprir aos princípios de obediências, e normas do regulamento da SSVP. Emite Carta de Agregação e de Instituição aos Conselhos e Conferências hierarquicamente inferiores.
Depois de se tornar um vicentino, existem passos que devem ser seguidos. É como se fosse um batizado para se tornar um membro registrado e ativo na sua conferência e o mesmo é chamado de proclamação. As proclamações de confrades e consócias acontecem com muita freqüência graças a Deus.É um sinal de renovação na sociedade. Há alguns cuidados necessários numa proclamação, assim temos algumas orientações, como diz J. Sá, da Conferência de São Lucas, de Governador Valadares, MG:
01-Preparar convenientemente os vicentinos. Isto significa que não deve haver pressa na proclamação. 02-No dia escolhido, se possível, é aconselhável a realização de uma missa, com a comunhão geral de todos os membros, informando –se aos aspirantes da possibilidade de ganharem uma indulgência, se comungarem e rezarem na intenção do Santo Padre o Papa. 03-Convidar os familiares, amigos e outras conferências para a reunião.Não esquecer o Conselho Particular, e Comissão de jovens, principalmente se algum dos proclamados for jovem. 04-A reunião é normal da conferência, porém mais festiva. Alguns assuntos podem ser abreviados. 05-Ao compor a mesa dos trabalhos, convidar o Presidente do Conselho Particular, Central, Metropolitano e respectivos coordenadores. 06- Um visitante será, convidado para representar os demais. 07-A leitura espiritual pode ser substituída por um cântico. 08-Havendo condições, todos os presentes devem assinar a ata. 09-Acolher os visitantes com muita alegria e cânticos. 10-Momento apropriado para fazer a proclamação é o dia da palavra franca ou livre. Antes, porém, o presidente prestará informações de interesse da Conferência, lerá circulares recebidas e dará avisos que forem necessários. 11-No momento da proclamação, o presidente pedirá que todos os presentes fiquem de pé e dirá: em nome da conferência tal, proclamo(diz os nomes dos aspirantes) como membros ativos da Sociedade São Vicente de Paulo. 12-Após as palmas, um confrade ou consócia, previamente escalado, fará a saudação aos novos confrades e consócias. Se houver a entrega de alguma lembrança, este é o momento oportuno. 13-Falarão os Presidentes de Conselhos e Coordenadores de Comissão de jovens. Se houver acordo, um ou dois falarão em nome dos demais. Segue-se, também, a palavra do visitante que se pronunciará em nome de todos os outros. 14-Agora sim, a palavra é concedida aos proclamados. Pode-se também, adotar o de um deles falar em nome dos demais. 15-Durante a coleta, todos ficam de pé, enquanto se canta um hino. 16-Nas orações regulamentares incluir a denominada “Oração para o uso da Sociedade São Vicente de Paulo”. 17-Ao final, cantar os parabéns aos novos confrades e consócias, pedindo que fiquem em posição de receberem os abraços de todos os presentes. (SÁ, 2001, p. 30)
Não podemos deixar de ressaltar que na estrutura da SSVP, temos a ECAFO (Escola de Caridade Antônio Frederico Ozanam) e CJ (Comissão de Jovens), que trataremos de esclarecer em capítulos posteriores.
3.4 PATRIMÔNIOS DA SSVP EM GOIANÉSIA
Para melhor organização e para maior conforto às famílias carentes e aos próprios vicentinos da SSVP, a mesma procurou construir salões em vários bairros de Goianésia para serem realizadas as reuniões, para famílias carentes morarem e também um grande salão na sede do conselho central de Goianésia para eventos que reúnem um maior número de pessoas como assembléias, encontros vicentinos e também para ser alugada para outros eventos da comunidade, visando renda para aplicar na própria sociedade e manutenção da mesma. Há também o lar São Vicente de Paulo que é uma entidade filantrópica e de responsabilidade da SSVP e atua na ajuda a pessoas desamparadas da sociedade, que não tem ninguém por elas.
(...) na sua jurisdição a SSVP possui imóveis para o funcionamento de reuniões, escolas e casas para pessoas carentes; construiu desde sua fundação, quantidade superior a 500 casas às pessoas necessitadas. Considerada de utilidade pública pela lei municipal número 361,de 30 de outubro de 1972.(MENEZES et al., 2000, p. 269)
3.5 A SSVP E A COMUNDADE
A SSVP, em primeiro plano, foi surpresa para a comunidade, mas foi bem recebida pela mesma que também ajudou com doações de todos os tipos e até hoje essa receptividade continua a aflorar. Ou seja, a comunidade de Goianésia continua contribuindo para o bem social, andando de braços dados com as conferências, fazendo doações e com boa vontade. As conferências, além das famílias assistidas que são aquelas que recebem visitas dos membros vicentinos diariamente e que são ajudados de forma mais contínua, ainda ajudam outras famílias com doação de cestas básicas, remédios, mão-de-obra, em que foram construídas várias casas para famílias carentes de Goianésia. Essas ajudas são feitas de forma consciente, responsável e organizada. Antes de qualquer contribuição, a conferência que vai ajudar faz uma sindicância para verificar se realmente aquela pessoa necessita de ajuda ou está querendo se aproveitar da conferência, como é o caso de pessoas que pedem ajuda para alimentar o vício e outras que, ás vezes precisam mais de ajuda espiritual do que material. E outros mentem para conseguir ajuda e ao fazer a sindicância é constatado que a ajuda se destinaria a outros fins. Assim é necessário a visita semanal que os vicentinos fazem a casa do pobre, pois é nesta visita que os vicentinos, além de constatar a real necessidade, eles dão amor, carinho, atenção, conversam, e principalmente, ouvem o pobre. Ali há uma troca de amor fazendo com que os vicentinos aprendam a ter mais humildade com o pobre ali presente, assim disse o fundador da SSVP, Antônio Frederico Ozanam: “Aprendamos, na nossa visita ao pobre, que ganhamos mais com esta, do que ele. Porque a presença da sua miséria nos tornará melhores.”[3] (INÍCIO, 2003, s/p.) É importante ressaltar que, segundo pesquisas feitas, a SSVP trabalha de forma a promover o indivíduo, fazendo com que a pessoa ajudada, num futuro próximo, não precise mais e possa caminhar com as próprias pernas e com dignidade. Ou seja, sacia a necessidade de urgência e depois ensina a pescar, como constata o artigo extraído da internet:
A SSVP leva sua ajuda a quantos dela precisam, independentemente de raça, cor, nacionalidade, credo político e posição social, desta maneira, qualquer um pode solicitar uma sindicância para sua casa ou de um terceiro à uma conferência. Feito isto, a Conferência visitará a casa da família que será assistida, a fim de identificar suas necessidades e preencher seus dados para que possa ser feito o acompanhamento caso a sindicância seja aprovada, em seguida os membros que realizaram a sindicância levam a ficha com os dados da família para a reunião, onde todos os membros, após ouvi-los e analisarem os dados da ficha, solicita ajuda material e se identifique que os mesmos realmente não necessitam é que uma sindicância é reprovada. São geralmente assistidos da SSVP : famílias carentes economicamente, internos da Sociedade São Vicente de Paulo, idosos, enfermos, etc (...) (INÍCIO, 2003, s/p.)
4 IDEALIZADOR DA SOCIEDADE SÃO VICENTE DE PAULO
Antônio Frederico Ozanam nasceu aos 23 de abril de 1813 em Milão (Itália), filho de João Antônio Ozanam (professor e médico) e Maria Nantas. Aos nove anos, Antônio Frederico Ozanam entrou para o Colégio Real de Lião, Ali despertando sua vocação literária. No colégio, Frederico despertava entre seus mestres a maior admiração, distinguindo-se pela facilidade com que aprendia as lições e aos 16 anos concluiu Frederico Ozanam seus estudos secundários e mais tarde formou-se em advocacia, por gosto do pai e em seguida em letras, que era sua vocação. Em novembro de 1834 chega Ozanam a Paris. Iria coroar com grau superior seus estudos jurídicos. Teria que enfrentar dura luta com estudos e trabalhos vicentinos. Sem esquecer a literatura e no 1 de janeiro de 1841 ocupou a cátedra de literatura estrangeira, na Sorbona, como suplente, um jovem professor de 28 anos, pálido e vacilante, defronte de uma platéia de estudantes, professores e amigos. Em 23 de julho de 1841 casou-se com Amélia. A resistência física de Ozanam chegara ao máximo. Suas forças não suportaram o excesso de trabalho. Em agosto de 1846 caiu gravemente doente. Uma febre perniciosa o prostrou com perigo de vida e após um mês de convalescença não conseguia nem levantar-se. Apesar de todos os esforços médicos a doença persistia indomável, e sofria mais por não poder visitar seus pobres, e, para consolar-se, mandava distribuir pão aos que batiam à sua porta. Para se tratar, Ozanam mudou de ares (foi para Roma) e ele pôde se curar, mas a nefrite que o atacara em 1846 estava de volta em 1949. Os sofrimentos aumentavam e ante os sintomas de enfermidade, os médicos prescreveram-lhe repouso absoluto. Convicto de que a morte estava próxima, pensava em fazer seu testamento que foi redigido naquele mesmo ano, julgando-se um grande pecador, começou por entregar sua alma à misericórdia infinita de Deus. A Amélia, sua doce esposa, deixava um curto adeus, marcando encontro no reino do céu, e à Maria, sua filha adorada, deixava a bênção dos patriarcas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.., e aos 08 de setembro de 1853, Ozanam vem a falecer. Devendo o corpo ser embalsamado, a família pediu aos médicos que fosse constatada a causa da morte de Ozanam, mas como no tempo não havia laboratórios especializados e muito menos raio x, não se ficou sabendo de que Ozanam morreu. A verdadeira glorificação de Ozanam fundamenta-se na SSVP e pela sua vida dedicada aos pobres, pela sua ação apostólica, pelo seu devotamento à causa da igreja, Ozanam pode ser considerado um Santo de nossos dias. Desde 1925 a causa de sua beatificação foi introduzida na Santa Fé e no dia 27 de agosto de 1997 foi finalmente beatificado. E desde então, os confrades vicentinos do mundo inteiro faz orações em todas as reuniões pedindo a canonização de Antonio Frederico Ozanam, pois, a beatificação já foi alcançada, depois de muitos anos de orações, pedindo sua beatificação. Segundo os vicentinos o que fez com que a SSVP sobrevivesse de modo inexplicável foi a intercessão de Maria, São Vicente de Paulo e de Frederico Ozanam. Que a vida luminosa de Ozanam sirva a todos os que lerem, de estímulo aos que vivem os ideais da caridade evangélicas e de atração aos que dele encontram-se afastados. A respeito da beatificação de Ozanam, temos o depoimento do Professor Hermes Gonçalves da Silva.:
Para mim a beatificação de Ozanam foi um fato extraordinário. Tudo aconteceu de repente. Eu morava em Taguatinga e era recém ordenado presbítero. Nesta época recebi um convite para acompanhar um grupo de Catecumenato da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que havia programado uma viagem à Paris, juntamente com o pároco Pe. Valdir Mamede, da Congregação Claretiana, que me disse: “é um presente de ordenação”. Fiquei felicíssimo. Esta felicidade aumentou quando tomei conhecimento que iríamos participar da beatificação de Frederico Ozanam, na Catedral Notre Dame de Paris. Uma das primeira providências que tomamos, ao chegar em Paris, foi procurar ingressos de entrada no local da beatificação. Havia uma rigorosa fiscalização, a fim de identificar possíveis atentados. Tudo isto porque o Papa João Paulo II, sendo chefe do estado do Vaticano e, também, o representante maior da Igreja Católica Apostólica Romana, tinha, por direito, que ser protegido de qualquer ameaça ou atentado. Assim, quem não se identificasse não poderia participar da cerimônia de beatificação, que estava programada para o dia 27 de agosto de 1997. Neste dia levantamos bem cedo e nos dirigimos rumo à catedral Notre Dame, que fica numa das ilhas mais famosas do mundo, conhecida como “Ille de la Citè”, entre o rio Sena, que se divide em dois braços. Uma curiosidade vale a pena ser ressaltada: Paris é conhecida por ser um exemplo de cidade secularizada, lugar de pouca fé e muita confiança na razão e no conhecimento científico, fruto da racionalidade. Neste sentido esperava-se muita manifestação contra o papa e os católicos que aí se encontravam. No entanto a reação foi diferente e , segundo notícias que li nos jornais “Le monde” e “Le Figaro”, o carisma do Papa João Paulo II e a simpatia que todos nutrem por Frederico Ozanam contribuíram para que o evento transcorresse num clima de muita tranqüilidade e paz. A cerimônia de beatificação levou à Paris milhares de pessoas de outros países que se juntaram aos franceses. Havia gente demais. Só os bispos e cardeais que entraram em procissão, para o interior da Catedral Notre Dame, encheram a igreja. Assim, padres, freiras, seminaristas e fiéis, em geral, tiveram que acompanhar o evento através de dois grandes telões que foram montados do lado de fora da Catedral: um do lado esquerdo da igreja e outro do lado direito. Aí aproveitei para fotografar a imagem de Frederico Ozanam, que estava projetada no telão. Até hoje me lembro com muita saudade. Foi um momento riquíssimo na minha vida. As mensagens de esperança do Papa João Paulo II, assim como os grandes feitos de Ozanam, me impressionaram muito. Frederico Ozanam pode ser considerado um santo, pelo testemunho cristão que deixou, com sua vida. No entanto, para que a Igreja o inclua entre os santos faz-se necessário uma outra cerimônia, conhecida como “canonização”, que oficializará a sua condição de santo. Outro detalhe que gostaria de comentar: Frederico Ozanam se inspirou em São Vicente de Paulo, que já foi canonizado. O corpo dele encontra-se em Paris. Tivemos a oportunidade de visitá-lo. O movimento de fiéis que querem ver o seu corpo é enorme. Fica até difícil demorar diante da redoma que abriga seu corpo. Aí tive a oportunidade de observar o rosto de São Vicente de Paulo, que permanece intacto, após vários séculos. Tanto Frederico Ozanam, quanto São Vicente de Paulo foram homens que lutaram por uma sociedade mais justa. Gastaram o tempo em favor dos mais pobres, incondicionalmente. Penso que a sociedade seria bem melhor se todos os homens e mulheres seguissem os exemplos que nos deixaram.[4]
5 SANTO PADROEIRO DA SOCIEDADE SÃO VICENTE DE PAULO
Segundo Courtois (1976), São Vicente de Paulo nasceu em 24 de abril de 1581, no seio de uma família de camponeses na cidade de Poy, região de Landes, na França. Vicente foi batizado alguns dias depois de seu nascimento, pois seus pais eram excelentes cristãos e desejava fazer da criança um verdadeiro filho de Deus através do batismo. João Paulo, pai de Vicente, trabalhava duro na lavoura de milho para sustentar a numerosa família. Vicente e seus irmãos foram aproveitados bem cedo para os serviços da fazenda, onde ajudavam a cuidar dos rebanhos. Para isso usava pernas de pau, pois, devido o solo ser plano, na época das chuvas se transformavam em pântanos e as pernas de pau eram um bom meio de não molhar os pés. À noite faziam orações em comum e lia-se a vida dos santos. Lembravam dos falecidos da família e, antes de deitar-se, Vicente e seus irmãos pediam a bênção a seus pais. Desde criança já possuía um coração caridoso, apesar de ser de família humilde, não hesitava em ajudar os mendigos e na coleta aos domingos. O jovem Vicente foi crescendo e seus dons foram aparecendo, e, encorajados pelos seus pais e também por um amigo da família, M. de Comet, continuou seus estudos, tendo sucesso no curso de gramática e também em Latim. Era um exemplo de trabalho tenaz e aos 16 anos, por ocasião de uma cerimônia, o Bispo corta alguns cabelos de Vicente, recebendo a tonsura. Isto significava que ele entrava no clero e que, desde então devia usar a batina. Continuou estudando por mais cinco anos as Ciências religiosas e só depois de ter recebido as ordens menores, o subdiaconato, depois o diaconato, ele foi ordenado padre a 23 de setembro de 1600. Não tinha nem 21 anos completo. Sua primeira missa foi em Buzet, numa capela solitária no fundo do bosque, mas celebra com muito fervor. Padre Vicente viajou para Marselha, e, ao retorna, a embarcação que lhe trazia foi capturada por piratas turcos que fez dos tripulantes seus escravos e vendidos como animais. Ao falar de Cristo à esposa de seu proprietário na qual era árabe, e, impressionada de tal forma que reprovou a atitude de seu marido o repreendendo com tanto ardor que correu a procura de Vicente confessando seu desejo de se converter. Na primeira oportunidade os dois voltaram para França. Em 1623, juntamente com “mademoiselle” Leigas, fundou a Congregação das irmãs de caridade, também chamadas vicentinas, que cuidava dos pobres e enfermos. Em 1625 fundou a Congregação da Missão dos Padres. Logo a congregação instalou o Hottel-Dieu, ou Santa Casa de Misericórdia. Aprovada pelo bispo de Paris em 1646, a Congregação expandiu-se por todo o mundo e chegou em 1849 ao Brasil, instalando-se em Mariana, M.G. com a casa da Providência. Amava os injustiçados e pobres e dizia que a maneira como se dá, vale mais do que aquilo que se dá. Foi o fundador da Congregação da missão dos padres e patrono de caridade. No dia 26 de setembro de 1660, Vicente não podendo rezar a Santa Missa, fez-se carregar até a capela para assisti-la e retornando ao seu quarto pediu que lhe dessem a extrema-unção. Passou todo o dia e a noite sentado em uma poltrona, unindo-se às preces dos que rodeavam. Às 5 horas da manhã de 27 de setembro, ele expirou beijando o crucifixo e pronunciando distintamente esta palavra: “Confido” que quer dizer: Eu tenho confiança. O francês Vicente de Paulo foi canonizado por Clemente XIII em 1737. Em 1855 o Papa declarou São Vicente de Paulo, patrono de todas as obras de caridade.
6 ÓRGÃOS DE APOIO DA SOCIEDADE SÃO VICENTE DE PAULO
Os órgãos de apoio são aqueles que ajudam na parte de apoio e implementação da SSVP. Aqueles que ingressar ou que tenha pretensão de fazer parte da SSVP, ou talvez que já faça parte, mas ainda não conhece como são feitos os trabalhos vicentinos e a Regra, poderá encontrar algumas dificuldades, como: falta de entrosamento e desânimo. Pois os trabalhos, muitas vezes, são árduos e ao fazer uma visita a uma família “pobre”, onde vivem numa situação suburbana, sem higiene e que, talvez, esteja doente e ter que cumprimenta-los, conversar e saber dialogar elevando a auto-estima daquela pessoa, para que ela possa sair desta situação que se encontra e ter uma vida mais digna, o membro novato poderá ter várias reações, desde um grande sentimento de solidariedade, como de nojo e de indiferença, que em vez de ajudar poderá levar essa pessoa mais para o “fundo do poço”. Miranda esclarece melhor o que vem a ser vicentino e as características que o vicentino deve assumir. Ser vicentino é educar-se a si mesmo na escola superior do amor. É aprender com o mestre Divino as lições de humildade. Ser vicentino é realizar uma vocação de Santidade. É caminhar na seara do Bem, plantando a caridade. É abrir o coração em gesto de bondade. Ser vicentino é testemunha a fé nas mínimas atitudes. É acreditar no valor do bem que os outros fazem. É ajudar com entusiasmo e sem lamentos a construção de um mundo mais humano. Ser vicentino é servir com otimismo, equilíbrio e esperança a caminhada, no Batismo começado. É sorrir confiante, sem desanimar, quando surgem as dificuldades e prosseguir avante sem se envaidecer, na busca da vitória. Ser vicentino é sentir-se responsável e permanecer fiel. É saber amar tanto mais quanto maiores forem as necessidades e mais dolorosa as quedas dos demais. É ter no semblante a serenidade do pronto acolhimento e no olhar a canção das boas-vindas para quantos dele se aproximarem. Ser vicentino é ter para com todos a prodigalidade amiga de uma afeição sempre sincera. É repartir com generosidade o pão e a paz de que se faz mensageiro. É servir com amor, a exemplo de Jesus, manso e humilde de coração. Ser vicentino é participar com ardor na difusão da mensagem que é o Evangelho do amor. É sentir-se feliz aliviando o sofrimento alheio e cooperando na promoção humana e cristã dos que ainda padecem no chão da miséria. Ser vicentino é reconhecer-se Apóstolo da caridade “que se alegra com a verdade, tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. É amar sem pretender ser amado. É realizar-se com desprendimento e paciência, com perseverança e alegria, a vontade de Deus em cada “agora” da sua vida. Caros vicentinos, convém lembrar que muitas vezes somos obrigados a sacrificar certas preferências pessoais, por causa do bem-comum. O amor do vicentino pelo próximo começa dentro da própria conferência, quem são souber colocar-se ao lado do assistido, jamais poderá ver o que ele vê, quem não ama o irmão, que está ao seu lado, dificilmente poderá amar a Deus. (MIRANDA, 1999, p. 2)
Com base nesse relato, vamos falar sobre dois órgãos de apoio, que contribui muito para a formação vicentina e constante crescimento e permanência de seus membros: a ECAFO (Escola de Caridade Antonio Frederico Ozanam) e CJ (Comissão de Jovens).
6.1 ESCOLA DE CARIDADE ANTONIO FREDERICO OZANAM
O objetivo da ECAFO é de evangelizar, formar líderes vicentinos e evangelizadores, ensinando os passos para que o vicentino desenvolva bem seus trabalhos na Conferência, com os assistidos e com a comunidade em geral. A ECAFO é composta pelo coordenador que é escolhido pelo presidente do Conselho que o indica como cargo de confiança, que poderá ser substituído a critério do presidente do Conselho, terminando seu mandato juntamente com o mesmo. O coordenador da ECAFO escolhe seus ajudantes que são: palestrantes, animadores e outros que variam de acordo com o módulo que vai ser aplicado. Aqui em Goianésia a ECAFO é mantida pelo Conselho Central, tendo como coordenador o confrade Ormezino Romeiro dos Santos, que escolheu para trabalhar consigo este ano de 2003 os confrades e consocias: para palestrantes: Amador, João J. de Miranda, Terezinha e Eli; para animadores: Antonio Alves, João Leite e Valdelice. Seus trabalhos devem ser relatados na reunião do Conselho Central e também à ECAFO do Conselho Metropolitano de Anápolis no qual é subordinado. Recebem cursos de formação e depois repassam para sua comunidade vicentina de atuação. Porém o Conselho ao qual é subordinado deve cuidar da adaptação às condições pessoais da comunidade e tem como base os livros publicados pelo Conselho Nacional do Brasil. Uma vez por ano a ECAFO de Goianésia realiza cursos em cada Conselho Particular, levando muita animação e conhecimento para os participantes, onde o Conselho Particular convida as conferências vinculadas a ele para participarem, e o mesmo organiza o local, almoço e lanche para os participantes e também para a ECAFO, que vem ministrar o curso. Para melhor esclarecer, temos como base o cap. IV, art. 53 da Regra da SSVP:
Art. 53 – Os Conselhos Metropolitanos e Centrais deverão criar, organizar e manter a “Escola de Caridade Antônio Frederico Ozanam (ECAFO)”, cujos programas versarão sobre formação cristã, vocação vicentina, problemas de ação e justiça sociais. § 1º - A estrutura oficial da “Escola de Caridade Antônio Frederico Ozanam” será objeto de instrução oficial do Conselho Nacional do Brasil, cabendo aos diversos Conselhos providenciar sua adaptação às condições peculiares da comunidade. § 2º - Os livros-textos oficiais a serem adotados nos cursos da “Escola de Caridade Antonio Frederico Ozanam” são aqueles publicados pelo Conselho Nacional do Brasil. § 3º - Os Conselhos Metropolitanos deverão designar, entre seus membros, um coordenador para supervisionar as atividades da “Escola de Caridade Antonio Frederico Ozanam”, em consonância com as diretrizes e a orientação do Conselho Nacional do Brasil. § 4º - Ao ingressar na Conferência, recomenda-se que o novo membro participe do curso básico da “Escola de Caridade Antonio Frederico Ozanam”. § 5º - Por delegação do presidente do Conselho Central, ouvido o Conselho Metropolitano, os Conselhos Particulares poderão instalar a “Escola de Caridade Antonio Frederico Ozanam”, em sua área de atuação, sob a orientação direta do respectivo Conselho Central. (CHOUARD, 1998. p. 56)
6.2 COMISSÃO DE JOVENS
Cada Conselho formará uma Comissão de Jovens que terá como principal objetivo introduzir o jovem na vida da Sociedade São Vicente de Paulo para que ele se torne um indivíduo mais ativo na mesma. Essa comissão terá um dirigente indicado pelo presidente do Conselho, e esse dirigente tem que ser vicentino e tem como atribuição: representar a juventude vicentina do seu conselho, promovendo a união entre o Conselho e a Comissão de Jovens; manter o Conselho informado sobre todos os trabalhos realizados e estabelecer um bom relacionamento com as unidades vicentinas, vinculadas e subordinadas ao Conselho, dedicando especial atenção aos jovens engajados na sua área de atuação. Aqui em Goianésia a Comissão de Jovens, tem como coordenador o confrade Helio Antonio de Sousa, indicado pelo presidente do Conselho Central para desenvolver este trabalho para com os jovens de Goianésia e região, onde o mesmo escolheu alguns confrades para compor a CJ (Comissão de Jovens). Tem desenvolvido trabalhos desde relacionados a lazer, como também no campo espiritual e na formação, tendo como exemplos, aqui em Goianésia, as gincanas, campeonatos de futsal com o intuito de levar o jovem ao entrosamento e também para recrutamento dos jovens para SSVP; e, encontro de jovens, vigília vicentina e outros, para formar e evangelizar os mesmos.
7 CONCLUSÃO
A SSVP desde sua fundação, em 1833, em Paris, França, desempenha um grande trabalho de promoção social, atuando nas mais distintas áreas. Tudo aconteceu porque um jovem chamado Antônio Frederico Ozanam mais alguns companheiros tiveram coragem de ser diferentes num meio acadêmico, onde se pregava contra o cristianismo. Com a morte de Ozanam, o idealizador da SSVP, o trabalho não parou e a SSVP se expandiu pelo o mundo inteiro. No ano de 1872, a SSVP foi trazida para o Brasil, tendo como seus fundadores: o conde de Alzejur- um fidalgo a serviço de D. Leopoldina, a imperatriz do Brasil e mais outros, formando a primeira conferência no Brasil, a Conferência São José. Acreditavam, que com esse passo em fundar a SSVP em terras Brasileiras iria amenizar os problemas sociais existentes, pois o povo clamava por caridade, porque sofriam ainda as conseqüências da guerra do Paraguai e também pelo imperialismo existente no país. O Sr. Altamiro Araújo Siqueira, com apoio do padre Jesus Osés Pagolo e outros criaram no dia 20 de novembro de 1953 a primeira conferência em Goianésia, cidade recém emancipada. Na época era município de Jaraguá, no estado de Goiás, região central do Brasil. Com essa iniciativa, a SSVP fez história em Goianésia e ao longo desses 50 anos de existência vem desempenhando diversas obras no campo social, religioso, moral e cultural do povo goianesiense. Concluímos que a SSVP diferencia de muitas outras entidades de apoio social, onde desempenha um trabalho de promoção social, fazendo com que a pessoa beneficiada tenha força para lutar contra as dificuldades e serem independentes conseguindo seu próprio sustento. Além disso leva amor, auto-estima e conhecimento da palavra de Deus através da Bíblia Sagrada, pois muitas vezes a pobreza de espírito é maior do que a material. Essa participação da SSVP em Goianésia vem contribuir e muito com os órgãos públicos responsáveis em proporcionar: saúde, bem estar social, alimentação, integração dessas pessoas no meio social e trabalho. Tudo isso sem falar nos vários velhinhos e excluídos da sociedade (abandonados pelos familiares) que se encontram acolhidos no Lar São Vicente de Paulo, que é administrado por pessoas que não são remuneradas para tal função e que fazem isso por amor ao pobre e por dedicação a SSVP, exercendo seu papel de vicentino e Cristão Católico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHOUARD, Pierre. Regra da sociedade de S. S. V.P. no Brasil. 30. ed. Rio de Janeiro: CNB da S. S. V.P., 1998. 93 p.
COURTOIS, Abbé Gaston. Vida de São Vicente de Paulo. 2 ed. Rio de Janeiro: Companhia Brasileira de Artes Gráficas, 1976. 23 p.
GUIMARÃES, Pedro j. Objetivo e motivação. Jornal Convincente, Brasília, p. 9-10, set., 1995
LOPEZ, Luiz Roberto. A Guerra do Paraguai. In _____. História do Brasil Imperial. 5. Ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1991. p. 80-95.
MENEZES, Ana Maria Godinho.Goianésia, seu povo, sua história. Goianésia: 1. Ed. Gráfica Tânia, 2000. 269 p.
MIRANDA, João José de. Ser Vicentino. Informativo da S. S. V. P. , Goianésia, 26 ed. 1999. p.2.
SÁ, J. Alguns cuidados necessários numa proclamação. Boletim Brasileiro S. S. V. P., Rio de Janeiro, ano 123, n.3, p.30, jun.2001.
VIDA de Frederico Ozanam. 11 ed. Rio de Janeiro: Companhia Brasileira de Artes Gráficas, 1978. 93 p. [1] MIRANDA, João José de. Presidente do Lar São Vicente de Paulo de Goianésia (Entrevista) [2] XAVIER, Amador Augusto. Presidente do Conselho Central de Goianésia (Entrevista) [3] Pesquisa feita no endereço: www.ssvp.org.br, 2003; 21:15 horas [4] (SILVA, Hermes Gonçalves da. Depoimento fornecido aos 17 de nov. de 2003)
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